Relação da criança com a mãe e professores pode explicar quadros de ansiedade na escola
- Milena Rossetti
- 19 de out. de 2017
- 3 min de leitura

Várias crianças são apontadas com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) quando, na verdade, trata-se de outros quadros melhor identificados através da avaliação psicológica. Problemas emocionais e a relação da criança com a mãe, por exemplo, podem elucidar algumas dificuldades de aprendizado e são observados na avaliação.
Graças à internet e checklists usados por professores para diagnóstico com questões do tipo: ‘tem esse sinal; tem esse sintoma’, há infelizmente muita confusão sobre o que realmente é o TDAH. É preciso deixar claro que isso não é diagnóstico e eu constantemente desconstruo muitas ideias desse tipo com as avaliações psicológicas que realizo.
O método da avaliação psicológica considera a observação rigorosa e verifica a interação indivíduo e ambiente e como esta relação pode levar as dificuldades de aprendizagem, que podem aparecer em função de problemas afetivos, inclusive na relação da criança com a mãe, e como foi o desenvolvimento dessa relação.
Às vezes, a criança transfere os sentimentos que tem pela mãe à relação com a professora na escola. Quando a mãe é continente às dificuldades da criança, sendo amorosa e afetiva, a criança pode chocar-se quando se depara com outra mulher que não é atenciosa e amorosa, e que não estabelece um vínculo de forma parecida. Neste sentido, a criança faz à transferência do primeiro modelo de mulher para a figura da professora. Não encontrando uma semelhança, enfrenta dificuldades de adaptação e concentração, por exemplo.
Diante disso, procuro sempre entender como é a reação da professora e da escola à expectativa desse aluno. Por vezes, me depararei com uma bola de neve que começou por uma dificuldade de manejo de situação com os educadores. Acredito que nesse caso, a avaliação neuropsicológica solicitada por algumas escolas não responde ao problema. É preciso ampliar o olhar através da avaliação psicológica que é mais abrangente.
Além da testagem psicométrica específica para identificar transtornos do neurodesenvolvimento, a avaliação psicológica traz uma compreensão ampla que não situa a avaliação simplesmente no indivíduo, como sendo o único responsável por suas dificuldades, e parte para a ideia de um cérebro que não processa bem diversos tipos de informação.
Esclarecimento
Não estou advogando contra a existência do quadro de TDAH. Ao contrário. Ele existe e compromete o funcionamento dos lobos frontais; com incapacidade das funções executivas; capacidade de planejamento; capacidade de manter o nível atencional; controle de impulsos e controles inibitórios. Porém, há outros aspectos que levam às dificuldades de capacidade intelectual. O autismo é uma delas. Outras são a deficiência intelectual; ansiedade; transtorno de ansiedade e transtornos depressivos que levam às dificuldades e comprometimentos temporários, pois uma vez tratados, permite ao paciente voltar ao funcionamento dentro dos padrões socioculturais.
Nesse aspecto, não se pode ignorar os termos de desenvolvimento físico ou cognitivo e os parâmetros sociais que também mudam de tempos em tempos. É por isso mesmo que temos que revisar os estudos de validade e de normatização dos testes, porque às normas de interpretação também mudam com a nossa sociedade.
Especialmente levando em conta que todo o desenvolvimento é resultado de uma interação entre meio interno e externo do sujeito, o que não é considerado na escola, que apresenta por vezes uma visão polarizada do problema. Assim, acredito que o diálogo entre as influencias ambientais, ou seja, as variáveis do ambiente externo ao indivíduo interagem sempre com o que está também dentro desta pessoa, com seu potencial genético, suas emoções e sentimentos.
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